sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Carta aterrorizadora a Sócrates

texto de José M. Barbosa


«Senhor Primeiro Ministro,
Engenheiro José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa


Excelência.

Tem Vossa Excelência apenas mais um ano de idade do que eu. Permita-me no
entanto que lhe diga que não tem a minha idade, no sentido de que não somos
da mesma geração e não é pela diferença de calendário.

Em 1974 aderi ao Partido Socialista, fui secretário da Juventude Socialista
do Estoril e nesta qualidade passei as estopinhas para que ideias, políticas
sociais, fossem implementadas pelo Partido Socialista.

Quando Francisco Pinto Balsemão desistiu do "Jornal de Cascais" eu fundei
um outro jornal, em Cascais, chamado "Boca do Inferno". Aldo Moro tinha sido
assassinado. Lembro-me de ter escrito sobre isso, de atribuir a culpa ao
PCI. O jornal era um manifesto anti-comunista. Custou-me dezasseis contos o
primeiro número de só dois (fiquei teso e o Senhor meu Pai não era o Pai
Natal mas quase). Já lá vão 34 anos mas sou o mesmo. Contei com o nobre
apoio de António Guterres (UM SENHOR!) - Vossa Excelência já ouviu falar ? -
e José Luís Nunes (OUTRO SENHOR!) - Vossa Excelência já ouviu falar ? com
quem privei (este último infelizmente partiu).
De António Lopes-Cardoso e Manuel Poppe Lopes-Cardoso (a quem desejo uma
rápida recuperação e vê-lo em breve). Theutónio-Pereira e outros, como dizia
Pessoa, de quem me não quero esquecer porque não me lembro.

Nestas andanças, Senhor Primeiro-Ministro, nunca o vi.

Afinal, onde estava Vossa Excelência no 25 de Abril ?
Na FAUL (Federação da Área Urbana de Lisboa do PS, rua do Alecrim) nem em
nenhum outro lado, vi Vossa Excelência. Vossa Excelência era provavelmente,
ainda, um bebé. Nem no comício da fonte luminosa em que estive a fazer
segurança a Mário Soares, armado até aos dentes com G3, entregues pelo CIAC
(de Cascais), armas geridas pelo Sr. Botelho, piloto da barra, primo do José
Manuel Casqueiro da CAP (Confederação dos Agricultores Portugueses), gente
boa. Dispostos a dar a vida contra a tomada de poder vinda de leste, via
PCP. Vossa Excelência, onde estava ? Com certeza que não no berço que não
tem. Depois caíu do céu à frente da JS.

Foi nessa altura que eu me afastei definitivamente.
Anos mais tarde, vim a cruzar-me com Vossa Excelência em Gondomar em
1995/96, vi Vossa Excelência ser amigo e próximo do Major Valentim Loureiro
(o restaurante 3M é do melhor que há), quando se discutia quem seriam as
empresas que iriam tomar conta da "incineração", com menos preocupações com
o ambiente, com mais preocupações pelo negócio, "bindo das Américas".

Permita-me Vossa Excelência duvidar das suas intenções.

A minha dúvida tem raiz no discurso de Vossa Excelência.

Nunca fala a favor do povo português, antes debita argumentos mesquinhos,
insultuosos, como se lhe tivéssemos passado um cheque em branco.

Sempre um discurso de defesa, nunca a favor de ninguém. O discurso de Vossa
Excelência é o que nos faz desconfiar de Vossa Excelência.
Não são os casos esquisitos do Freeport, as cenas indesculpáveis na Beira e
outros sítios, os seus tios que compram Maserattis e o seu primo, pessoa de
bem e homem de verticalidade inquestionável, que até se pirou para fazer um
curso de "karatê" no Nepal ou na China onde ainda anda. Não é nada disto.
Todos temos Vossa Excelência em boa conta, como um homem honesto. Vossa
Excelência falha, quando não abona a seu favor.
Quando discursa a promover medidas grosseiras do governo, marketing
político para inglês ver (não devia ter dito isto assim, soa a Serious Fraud
Office), quando o discurso de Vossa Excelência é um discurso de defesa do
seu lugar, da sua posição, do seu poder. Vossa Excelência NUNCA DIRIGIU UMA
PALAVRA AO POVO PORTUGUÊS! O seu discurso é reactivo, defende-se
afanosamente do que é indefensável.
O caso, mais um, "computador Magalhães", seria para mim um caso de polícia,
como sempre disse, e penso que Vossa Excelência estará de acordo, não fosse
o alto patrocínio do Primeiro Ministro do meu país em quem tenho de confiar,
nesta parceria do nosso dinheiro com a empresa J.P. Sá Couto de Matosinhos
que é a fossa das Marianas da excelência em matéria de trampa informática.
Engana-se Vossa Excelência ao tratar o Povo Português como uma horda de
idiotas. É só isto que não perdoo a Vossa Excelência e lhe digo de caras. Lá
porque o Partido Socialista se transformou numa corja de oportunistas e
arrivistas, eu estou em crer que Vossa Excelência é completamente alheio ao
facto. Pergunte Vossa Excelência a António Guterres, já que o José Luís
Nunes não está entre nós.
Sabe, Senhor Primeiro Ministro, houve Homens neste País que deram a vida, a
fortuna, sacrificaram a família, para que a Vossa Excelência seja permitido
tratar-nos como bestas. Houve homens que sofreram a perseguição, a tortura e
o exílio. Houve homens assim. É verdade.
Não, Vossa Excelência não sabe.

Cá para mim, até não sabe de nada.

Compreendo no entanto, os aspectos críticos em matéria de defesa Nacional,
da imagem do País. Falta-me é paciência e já não acredito em nada.
Senhor Primeiro Ministro, se é homem, se é Português, prove-o de uma forma
irrefutável. Nessa tão portuguesa expressão que tem raiz na coragem e na
seriedade, mostre que tem tomates, pare de nos envergonhar. Nem lhe pedimos
que prove que é sério... o ónus da prova ... prove-nos só que é Português.
Deve.

Demita-se.

E desapareça para o Nepal ou para a China. Vá ter lições de Karatê com o
"sensei" seu primo, que só lhe fazem bem. Não conspurque a escola de
Funakoshi Guishim, meu Mestre de Shotokan. É um favor que lhe peço. Se assim
for, está perdoado. Desde que não volte. Primo, idem.»

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